30 de março de 2012

Filme: A Invenção de Hugo Cabret


Méliès, engrenagens e a máquina de sonhos


É totalmente aceitável e compreensível o motivo da Academy of Motion Picture Arts and Sciences ter premiado A Invenção de Hugo Cabret (2011) em várias categorias. Apesar de seus erros e tropeços ao longo dos anos, apresentando premiações sem coesão, o filme em questão tem seus méritos.

O diretor Martin Scorsese talvez seja um dos únicos dos velhos tempos que ainda está ativo e concebendo produções aclamadas por público e crítica. Já trabalhou com inúmeros atores, muitas vezes alçando a carreira de alguns com seus respectivos filmes, além de apresentar histórias ou modos de contá-las de forma inovadora. Assim sendo, também é aceitável e compreensível o motivo por ter se apaixonado pelo livro de Brian Selznick e a vontade de adaptá-lo à sétima arte.

Hugo apresenta uma brilhante relação histórica-ficcional através de personagens e cenários adoráveis. A história do órfão que rouba pequenas peças da loja de brinquedos situada na estação de trem onde mora transforma-se, aos poucos, em uma aventura no mínimo interessante através da história do próprio cinema. Mais do que interessante, a forma como essa história se relaciona com a ficção criada por Selznick e transposta para o roteiro cinematográfico por John Logan torna-se apaixonante, principalmente para os adoradores da sétima arte.

Ao assistir, o espectador diverte-se com situações temperadas com um humor leve e família ou com uma carga emocional mais pesada, todas interpretadas por grandes atores e atrizes, manejados pelo brilhante Scorsese. É, no fim das contas, um brinde ao próprio cinema, de forma singela e artística.


E esse brinde, essa homenagem, fica forte o bastante quando o roteiro adentra a história pessoal de George Méliès, ilusionista francês e um dos precursores do cinema. É nesse ponto que o drama pessoal de Hugo Cabret encontra-se com o melancólico passado do fictício Méliès. Os dois, então, ajudam-se mutuamente, cada um à sua forma.

Scorsese, quando divulgou que iria rodar o filme em terceira dimensão — o primeiro de sua carreira nesse formato —, causou um certo murmúrio entre fãs e admiradores de seus trabalhos. O cineasta (assim como Méliès, se a comparação me permite), no entanto, não usa o efeito como simples efeito. Este está lá para encantar e não jogar objetos contra a plateia. É um efeito usado para, junto com o roteiro, a fotografia leve e as atuações brilhantes, despertar a admiração em seus espectadores (assim como os espantados espectadores de Méliès admiraram os efeitos de seus filmes, à época).

Assistir A Invenção de Hugo Cabret é experimentar uma metalinguagem que mistura história e ficção através de uma homenagem bela e merecida. Scorsese apresenta um filme leve, tocante, que se transforma em uma aula para aqueles que não são tão amigos do cinema e um presente para aqueles que o admiram.

Hugo, Martin Scorsese, 2011.

A Invenção de Hugo Cabret. Roteiro de: John Logan. Baseado no livro A Invenção de Hugo Cabret, de Brian Selznick. Com: Ben Kingsley, Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Helen McCrory, Sacha Baron Cohen, Christopher Lee.


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Ewerton

Sobre o autor

Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera A Bombonière

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