Méliès,
engrenagens e a máquina de sonhos
É
totalmente aceitável e compreensível o motivo da Academy of Motion Picture Arts
and Sciences ter premiado A Invenção de
Hugo Cabret (2011) em várias categorias. Apesar de seus erros e tropeços ao
longo dos anos, apresentando premiações sem coesão, o filme em questão tem seus
méritos.
O
diretor Martin Scorsese talvez seja um dos únicos dos velhos tempos que ainda
está ativo e concebendo produções aclamadas por público e crítica. Já trabalhou
com inúmeros atores, muitas vezes alçando a carreira de alguns com seus
respectivos filmes, além de apresentar histórias ou modos de contá-las de forma
inovadora. Assim sendo, também é aceitável e compreensível o motivo por ter se
apaixonado pelo livro de Brian Selznick e a vontade de adaptá-lo à sétima arte.
Hugo apresenta uma brilhante relação
histórica-ficcional através de personagens e cenários adoráveis. A história do
órfão que rouba pequenas peças da loja de brinquedos situada na estação de trem
onde mora transforma-se, aos poucos, em uma aventura no mínimo interessante
através da história do próprio cinema. Mais do que interessante, a forma como
essa história se relaciona com a ficção criada por Selznick e transposta para o
roteiro cinematográfico por John Logan torna-se apaixonante, principalmente para
os adoradores da sétima arte.
Ao
assistir, o espectador diverte-se com situações temperadas com um humor leve e
família ou com uma carga emocional mais pesada, todas interpretadas por grandes
atores e atrizes, manejados pelo brilhante Scorsese. É, no fim das contas, um
brinde ao próprio cinema, de forma singela e artística.
E
esse brinde, essa homenagem, fica forte o bastante quando o roteiro adentra a
história pessoal de George Méliès, ilusionista francês e um dos precursores do
cinema. É nesse ponto que o drama pessoal de Hugo Cabret encontra-se com o
melancólico passado do fictício Méliès. Os dois, então, ajudam-se mutuamente,
cada um à sua forma.
Scorsese,
quando divulgou que iria rodar o filme em terceira dimensão — o primeiro de sua
carreira nesse formato —, causou um certo murmúrio entre fãs e admiradores de
seus trabalhos. O cineasta (assim como Méliès, se a comparação me permite), no
entanto, não usa o efeito como simples efeito. Este está lá para encantar e não
jogar objetos contra a plateia. É um efeito usado para, junto com o roteiro, a
fotografia leve e as atuações brilhantes, despertar a admiração em seus
espectadores (assim como os espantados espectadores de Méliès admiraram os
efeitos de seus filmes, à época).
Assistir
A Invenção de Hugo Cabret é
experimentar uma metalinguagem que mistura história e ficção através de uma
homenagem bela e merecida. Scorsese apresenta um filme leve, tocante, que se
transforma em uma aula para aqueles que não são tão amigos do cinema e um
presente para aqueles que o admiram.
Hugo, Martin Scorsese, 2011.
A Invenção de Hugo Cabret. Roteiro
de: John Logan. Baseado
no livro A Invenção de Hugo Cabret, de
Brian Selznick. Com: Ben Kingsley, Asa Butterfield, Chloë Grace
Moretz, Helen McCrory, Sacha Baron Cohen, Christopher Lee.
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Sobre o autor
Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera
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