O
exploitation no limite
Piranha (2010) é um filme que aborda
limites. O espectador, frente a situações previsíveis e ridículas, acaba
testemunha de um festival de babaquices e absurdos. Seria uma ideia errônea
criar um filme desse modo se não fosse divertido. O interessante, ao final, não
é o seu roteiro ameno ou seus efeitos visuais que beiram à computação gráfica
mal feita, mas sua pretensão ao mostrar cenas difíceis de acreditar que foram
produzidas.
Estão
ali presentes muitas característas do cinema apelativo: temos adolescentes
mostrando peitos e bundas, mutilação e muito sangue. De certa forma, a criação
da mínima história contribuiu para isso: a presença do produtor e diretor de
filmes pornográficos deseja apenas cenas boas e quentes para seu próximo
lançamento, e isso exige a presença de jovens bonitas e atraentes,
eufemisticamente falando, e um cenário bonito. Em um amontoado de cenas
rápidas, somos apresentados ao protagonista, um jovem aparentemente bobão que
gosta da amiga, e que, repentinamente, vê-se ao lado do produtor, que exige dicas
de cenários bons para seu filme.
Dessa
forma, diretor, “atrizes” e protagonista (acompanhado estranhamente pela amiga)
vão a um certo ponto afastado de um lago. Esse lago é, por razões óbvias, o
espaço onde o banquete sanguinário é servido.
A
produção encarrregou-se em misturar os tipos de efeitos utilizados para a
composição das cenas grotescas. Em certos momentos vemos maquiagem aplicada nos
atores e, em outros, o uso de uma computação gráfica que varia de uma qualidade
razoável para um realismo duvidoso. A impressão que é passada para quem assiste
é a falta de cuidado proposital: tudo ali presente tem sentido cômico, seja
esse proveniente das piadas de mau gosto geradas pelos diálogos dos personagens
ou das cenas de morte propriamente ditas.
A
catarse experimentada pelo público chega a níveis que beiram o extremismo (na
cena onde a garota perde os cabelos que ficam presos nas hélices de um motor de
um barco) e o ridículo (quem espera ver uma piranha jurássica arrotar um pênis
contra a câmera?), tudo ressaltado pelo 3D convertido na pós-produção, decisão
essa que também transparece um “cuidado” para com o mau gosto como forma de
diversão.
No
final das contas, as referências mais que esperadas acabam tornando-se presentes,
como o pôster vintage que parece ter sido criado especialmente para os fãs de Tubarão (1975), assim como a própria
fotografia, que privilegia as pernas fresquinhas dos banhistas desavisados, elevando
um pouco o nível do filme e formando um novo exemplo de exploitation exagerado.
Piranha 3D, Alexandre Aja, 2010.
Piranha. Roteiro de: Pete
Goldfinger e Josh Stolberg. Com: Steven R. McQueen, Elisabeth Shue, Jerry O’Connell,
Christopher Lloyd, Adam Scott.
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Sobre o autor
Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera
A Bombonière