La Piel Que
Habito
Espanha
2011
Suspense
117
minutos
Dirigido
e escrito por: Pedro Almodóvar.
Baseado
na obra Tarântula, de Thierry
Jonquet.
Elenco:
Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Roberto Álamo, Jan Cornet.
Definir
uma obra cinematográfica de um diretor considerado fonte de inspiração para
muitos outros, ou simplesmente considerado gênio é uma aventura desmedida. Na
história do cinema mundial, temos muitos exemplos: Stanley Kubrick, Ingmar
Bergman, Federico Fellini, Steven Spielberg etc. São diretores que mudaram
muitas coisas no modo de filmar e apresentar suas histórias para o grande
público, aproximando as pessoas da sétima arte.
Na
Europa, recentemente, dois exemplos encaixam-se nessa classificação: Lars Von
Trier e Pedro Almodóvar. Von Trier, ultimamente, andou chocando o público, seja
através dos próprios filmes, ou através de suas “brincadeiras” (como a mal
colocada na entrevista coletiva do Festival de Cannes, nesse ano). No entanto,
por sua obra ser de difícil assimilação, torna-se grande arte para o grande
público. Já Almodóvar está há um bom tempo na estrada; entre seus filmes, sua
parceria com grandes atores ajudaram no sucesso de cada película, tendo Antonio
Banderas e Penélope Cruz como os dois principais nesse quesito.
O
primeiro trabalhou com o diretor, pela última vez, no filme Ata-me!, de 1990. Já os primeiros rumores de que Almodóvar estava
produzindo um novo filme contaram que este seria um suspense, pela primeira vez
na carreira do diretor, e com o astro de A
Lenda do Zorro como protagonista. Imediatamente, tanto público quanto
mídia, voltaram suas atenções e tentaram desfazer todo o mistério que envolvia
a produção, principalmente depois de uma série de pôsteres sinistros serem
lançados e um dos trailers mostrar muitas imagens, mas, ao mesmo tempo, não
revelar absolutamente nada sobre o enredo.
A Pele Que Habito, seguramente, é um filme
notável e agradável de se assistir. Não agradável no sentido filme-família,
proporcionando quase duas horas de lazer para todos assistirem e comerem pipoca
na frente da TV. Agradável por ser um suspense (sim, Almodóvar conseguiu filmar
um suspense, para quem ainda tinha dúvidas), mas com tratamento estético
(visual, principalmente) de obra de arte.
A
história, baseada no romance Tarântula,
do autor francês Thierry Jonquet, conta o drama do Dr. Roberto Ledgard, que
conseguiu salvar a mulher de um acidente de carro ainda viva, mas com todo o
corpo carbonizado pelas chamas do veículo. Sendo um cirurgião plástico
renomado, fica obcecado em conseguir criar uma pele resistente a todo tipo de
lesão ou perigo que um ser humano pode correr.
Esse
excerto da sinopse oficial é apenas a ponta do iceberg construído por Almodóvar
em toda a história. O estopim é simples: Roberto deseja criar uma pele
resistente. Mas, através das quase duas horas de projeção, fica à cargo do
espectador descobrir se ele consegue, como ele consegue, em quem ele consegue e
porque todas as outras personagens relacionadas a esse evento estão lá,
presentes no cotidiano doentio da personagem representada por Antonio Banderas.
Antonio
Banderas é, claro, um dos pontos altos da película. Não só pela sua
interpretação competente, mas pela imagem que proporciona à personagem: ele
realmente dá vida a um médico obcecado por seus objetivos, mesmo que estes
peçam caminhos proibidos pela medicina ou, mais ainda, pela ética.
No
entanto, os outros atores dão um show em suas respectivas interpretações:
Marisa Paredes, como a governanta Marília, é o brinco do filme: uma espanhola
nata representando uma forte espanhola; as cenas onde é vítima do próprio filho
ou quando empunha uma arma, apontando para aqueles que mais deseja a morte são
autênticas e dignas de estarem em um filme de Almodóvar.
A Pele Que Habito, porém, é gratificante de ser
apreciado não só por seus méritos estéticos (a ambientação da cena do estupro
no jardim da mansão, por exemplo, é um dos maiores contrastes: enquanto o jovem
estupra a moça assustada, tanto as folhagens verdes ao redor, quanto o vestido
pink da vítima “suavizam” a imagem, gerando uma ironia visualmente fantástica),
mas também por sua reviravolta no roteiro. O espectador, nesse momento, leva
uma rasteira de Almodóvar, mas sente-se recompensado por ela, pois o roteiro
mostra o seu verdadeiro potencial a partir do flash-back de Roberto e,
consequentemente, a revelação da reviravolta.
Pedro
Almodóvar, após lançar em 2009 Abraços
Partidos, que não empolgou público e crítica, volta à tona em A Pele Que Habito, demonstrando que
ainda tem pulso firme na hora de dirigir, e, mais ainda, aventurar-se em outros
gêneros, tapando a boca de muita gente pretensiosa ao dizer que, além de velho,
não tinha calibre para voltar a trabalhar com Antonio Banderas, muito menos
fazer um suspense. É uma pena não ter ganho como melhor diretor em Cannes.
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Sobre o autor
Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera
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