6 de janeiro de 2012

Filme: A Pele Que Habito

A Pele Que Habito
La Piel Que Habito
Espanha
2011
Suspense
117 minutos

Dirigido e escrito por: Pedro Almodóvar.
Baseado na obra Tarântula, de Thierry Jonquet.
Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Roberto Álamo, Jan Cornet.      

Definir uma obra cinematográfica de um diretor considerado fonte de inspiração para muitos outros, ou simplesmente considerado gênio é uma aventura desmedida. Na história do cinema mundial, temos muitos exemplos: Stanley Kubrick, Ingmar Bergman, Federico Fellini, Steven Spielberg etc. São diretores que mudaram muitas coisas no modo de filmar e apresentar suas histórias para o grande público, aproximando as pessoas da sétima arte.


Na Europa, recentemente, dois exemplos encaixam-se nessa classificação: Lars Von Trier e Pedro Almodóvar. Von Trier, ultimamente, andou chocando o público, seja através dos próprios filmes, ou através de suas “brincadeiras” (como a mal colocada na entrevista coletiva do Festival de Cannes, nesse ano). No entanto, por sua obra ser de difícil assimilação, torna-se grande arte para o grande público. Já Almodóvar está há um bom tempo na estrada; entre seus filmes, sua parceria com grandes atores ajudaram no sucesso de cada película, tendo Antonio Banderas e Penélope Cruz como os dois principais nesse quesito.


O primeiro trabalhou com o diretor, pela última vez, no filme Ata-me!, de 1990. Já os  primeiros rumores de que Almodóvar estava produzindo um novo filme contaram que este seria um suspense, pela primeira vez na carreira do diretor, e com o astro de A Lenda do Zorro como protagonista. Imediatamente, tanto público quanto mídia, voltaram suas atenções e tentaram desfazer todo o mistério que envolvia a produção, principalmente depois de uma série de pôsteres sinistros serem lançados e um dos trailers mostrar muitas imagens, mas, ao mesmo tempo, não revelar absolutamente nada sobre o enredo.


A Pele Que Habito, seguramente, é um filme notável e agradável de se assistir. Não agradável no sentido filme-família, proporcionando quase duas horas de lazer para todos assistirem e comerem pipoca na frente da TV. Agradável por ser um suspense (sim, Almodóvar conseguiu filmar um suspense, para quem ainda tinha dúvidas), mas com tratamento estético (visual, principalmente) de obra de arte.


A história, baseada no romance Tarântula, do autor francês Thierry Jonquet, conta o drama do Dr. Roberto Ledgard, que conseguiu salvar a mulher de um acidente de carro ainda viva, mas com todo o corpo carbonizado pelas chamas do veículo. Sendo um cirurgião plástico renomado, fica obcecado em conseguir criar uma pele resistente a todo tipo de lesão ou perigo que um ser humano pode correr.


Esse excerto da sinopse oficial é apenas a ponta do iceberg construído por Almodóvar em toda a história. O estopim é simples: Roberto deseja criar uma pele resistente. Mas, através das quase duas horas de projeção, fica à cargo do espectador descobrir se ele consegue, como ele consegue, em quem ele consegue e porque todas as outras personagens relacionadas a esse evento estão lá, presentes no cotidiano doentio da personagem representada por Antonio Banderas.


Antonio Banderas é, claro, um dos pontos altos da película. Não só pela sua interpretação competente, mas pela imagem que proporciona à personagem: ele realmente dá vida a um médico obcecado por seus objetivos, mesmo que estes peçam caminhos proibidos pela medicina ou, mais ainda, pela ética.


No entanto, os outros atores dão um show em suas respectivas interpretações: Marisa Paredes, como a governanta Marília, é o brinco do filme: uma espanhola nata representando uma forte espanhola; as cenas onde é vítima do próprio filho ou quando empunha uma arma, apontando para aqueles que mais deseja a morte são autênticas e dignas de estarem em um filme de Almodóvar.


A Pele Que Habito, porém, é gratificante de ser apreciado não só por seus méritos estéticos (a ambientação da cena do estupro no jardim da mansão, por exemplo, é um dos maiores contrastes: enquanto o jovem estupra a moça assustada, tanto as folhagens verdes ao redor, quanto o vestido pink da vítima “suavizam” a imagem, gerando uma ironia visualmente fantástica), mas também por sua reviravolta no roteiro. O espectador, nesse momento, leva uma rasteira de Almodóvar, mas sente-se recompensado por ela, pois o roteiro mostra o seu verdadeiro potencial a partir do flash-back de Roberto e, consequentemente, a revelação da reviravolta.


Pedro Almodóvar, após lançar em 2009 Abraços Partidos, que não empolgou público e crítica, volta à tona em A Pele Que Habito, demonstrando que ainda tem pulso firme na hora de dirigir, e, mais ainda, aventurar-se em outros gêneros, tapando a boca de muita gente pretensiosa ao dizer que, além de velho, não tinha calibre para voltar a trabalhar com Antonio Banderas, muito menos fazer um suspense. É uma pena não ter ganho como melhor diretor em Cannes.





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Ewerton

Sobre o autor

Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera A Bombonière

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