As
Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne
The
Adventures of Tintin: The Secret of the Unicorn
Bélgica
/ Nova Zelândia / EUA
2011
Animação
107
minutos
Dirigido por: Steven Spielberg.
Escrito por: Steven Moffat, Edgard Wright, Joe Cornish.
Baseado
na obra de Hergé.
Elenco: Jamie Bell, Andy Serkis, Daniel Craig, Nick
Frost, Simon Pegg.
Quando
se fala em Tintim, logo lembramos da série de desenhos animados, aqui no Brasil
transmitida pela TV Cultura ao longo dos anos 90, uma produção franco-canadense
que fez muito sucesso no mundo todo. Nos episódios, acompanhávamos as aventuras
e investigações do jovem Tintim, sempre ladeado por seu companheiro constante,
o pequeno cachorro branco Milu.
Mas
Tintim surgiu nos quadrinhos, em 1929, no Le
Petit Vingtième, um suplemento do jornal belga Le Vingtième Siècle, através dos traços do artista Georges Prosper
Remi, mais conhecido como Hergé. Hergé iniciou seu trabalho com Tintim criando
uma técnica que posteriormente ficou conhecida como “ligne claire”, ou linha
clara, onde se encontra um desenho com linhas e cores fortes, sendo as linhas
com espessura uniformizada (é por isso que o estilo também é conhecido como “democracia
de linhas”).
E
falando em Steven Spielberg, o diretor flertava com o investigador de topete
ruivo desde que seu Indiana Jones e os
Caçadores da Arca Perdida fora comparado por um jornal francês com os
quadrinhos de Hergé. As semelhanças estavam entre o estilo aventuresco e
fictício abordado tanto por Tintim, quanto por Mr. Jones. O problema era
conseguir passar para um linguagem cinematográfica todo o estilo perpetuado
pelo quadrinista, tanto para não decepcionar os fãs, quanto para não perder
dinheiro gasto nas futuras bilheterias.
Trinta
anos depois, a tecnologia desenvolveu-se astronomicamente e Spielberg pôde
botar a mão na massa, não antes de firmar parceria com Peter Jackson, amante de
Tintim e suas investigações bem desenhadas, e, de quebra, ter a oportunidade de
trabalhar com o trio de roteiristas responsável pela ótima adaptação de Scott Pilgrim Contra o Mundo para o
cinema. É com eles que As Aventuras de
Tintim ganha, entre os vários bons ingredientes, humor e carisma de sobra.
O
filme já começa (após os créditos iniciais, que são mostrados de forma
divertida e singela, acompanhados pela boa música de John Williams) apresentando
as personagens em uma cena muito simpática, situada em uma praça da cidade. É
iniciada uma situação coerente para a apresentação das personagens, e é a
partir dessa sequência que o espectador deve tomar fôlego e ir soltando-o aos
poucos para poder respirar.
Digo
assim pois As Aventuras de Tintim é
um frenesi de ótimas sequências de ação que Spielberg parecia ter se esquecido
de como era bom em dirigir. Desde Jurassic
Park e seu tiranossauro gigante e assassino que não se via um filme
spielberguiano onde não há tempo para piscar sem perder detalhes mínimos
(talvez Guerra dos Mundos entre nessa
classificação com sua sequência onde a população é pulverizada pelos tripods
dos alienígenas).
Sem
contar a ótima adaptação do traço de Hergé: apesar de não vermos ali a ligne claire perpetuada pelo belga, a
computação gráfica mistura nas personagens pessoas reais com os detalhes
típicos do quadrinista, como os narizes arredondados, por exemplo. O 3D também
cai como uma luva para a animação. Se você for ao cinema para desviar de coisas
jogadas contra a câmera propositalmente, esqueça: a terceira dimensão está
presente para extenuar a profundidade dos planos utilizados em cada tomada; e
de uma forma impecável.
É
nesse ponto que os atores revelam suas interpretações mais genuínas. Como a
animação foi gerada a partir da tecnologia que capta os movimentos de cada
ator, posteriormente desenvolvidos e adaptados para as personagens animadas,
aqueles puderam interpretar livremente, não precisando esperar por acerto de
iluminação etc. Quando vemos o resultado na grande tela, observamos o desenho
típico de Hergé numa mistura com humanos e, por baixo da cobertura gráfica
gerada por computador, a interpretação de cada ator.
Na
busca pelo Segredo do Licorne, acompanhamos Tintim e Milu (e, posteriormente,
Capitão Haddock), através de muitos cenários (mar, deserto, cidade, porto),
muitas sequências de ação salpicadas por vários momentos de um humor refinado
tipicamente hergeniano (o humor pastelão está presente também, como Dupont
pisando no gato e caindo da escada), tudo com a presença de personagens ótimas
e bem desenvolvidas.
Ao
fim da sessão, a sensação que se destaca é satisfação. Nada como acompanhar um
filme bem desenvolvido desde a pré-produção, embasado com roteiristas
talentosos e bons atores, apoiado em tecnologia avançada e sob a
responsabilidade de diretores e produtores de sucesso. Sem contar a origem de
tudo: a criação incrível de Hergé.
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Sobre o autor
Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera
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