10 de fevereiro de 2012

Filme: A Filha do Mal


A Filha do Mal
The Devil Inside
EUA
2012
87 minutos
Terror

Dirigido por: William Brent Bell
Escrito por: William Brent Bell e Matthew Peterman
Elenco: Fernanda Andrade, Suzan Crowley, Simon Quarterman, Evan Helmuth.

É realmente triste e desgastante observar que o gênero terror, nos últimos anos, está apoiando-se apenas nos gordos lucros provenientes das vindouras bilheterias. De uns tempos para cá, o subgênero “filmagens encontradas” ressurgiu repentinamente e vários títulos começaram a ser lançados, sendo produzidos com baixos orçamentos e atingindo recordes em suas respectivas estreias.


A Filha do Mal custou um pouco menos de US$1 milhão para os cofres do estúdio que aprovou a produção dessa inescrupulosa perda de tempo. Porém, em seu primeiro fim de semana, o filme arrecadou mais de US$33 milhões, apenas nos Estados Unidos. Resultado: independente de sua qualidade, desenvolvimento e trama, o falso documentário fez sucesso nas bilheterias e proporcionou um inchado lucro para o estúdio e seus realizadores. O real problema, no entanto, é o arrombo que está causando nos bolsos do público.


O filme, se me permite classificá-lo dessa forma, conta a busca de uma jovem, Isabella (interpretada pela brasileira Fernanda Andrade — e não, o fato dela ser brasileira não muda em nada a qualidade do filme, nem pra pior, nem pra melhor), por respostas em relação à doença de sua mãe, Maria, que após passar por um suposto exorcismo, assassinou três pessoas e foi transferida para um hospital psiquiátrico localizado em Roma. Na cola dela está Michael, um jovem diretor que é contratado pela própria Isabella para documentar toda a investigação que ela resolve fazer.


Em Roma, ambos conhecem dois padres que realizam exorcismos sem a permissão da Igreja Católica, pois a instituição possui uma série de burocracias que impedem, em muitos casos, a realização do ritual. A partir daí, os padres decidem ajudar Isabella ao fazerem uma consulta em sua mãe, na procura por respostas para as dúvidas da jovem, que deseja a cura de Maria. Então é dada a largada para padre voando, mulher endemoniada berrando maldições contra a própria filha e um documentarista assustado com tudo o que está filmando.


A real questão de A Filha do Mal não é a sua história. De certa forma, a proposta possui pontos interessantes: a crítica dirigida à Igreja através das revelações dos padres exorcistas, demonstrando que, mesmo após muitas coisas virem ao público, a instituição não muda (e, se muda, demora para fazê-lo) suas diretrizes, mantendo-se engessada em muitos pontos e, consequentemente, entrando em contradições políticas, culturais e ideológicas; a dúvida proveniente da doença de Maria: seria realmente uma doença mental, um demônio, vários demônios ou uma mistura de tudo? — entre outras; a real questão do filme é o modo como ele foi realizado.


Convenhamos: escrever, filmar, montar, enfim, realizar um filme que imita a estética caseira não é difícil. O difícil, o desafio principal, é saber chamar a atenção do seu público-alvo e mantê-la até o final. A Filha do Mal, no entanto, acertou e errou nesse quesito. Acertou porque o marketing é bom: assista o trailer e imediatamente sua curiosidade é aguçada (o filme é bom?, o filme é ruim?), errou porque a película, como um todo, não consegue carregar a responsabilidade que gerou ao chamar a atenção do público.


Portanto, a curiosidade que surgiu ao assistir um simples trailer bem realizado, bem montado, torna-se uma gigantesca decepção com o desenvolvimento e, principalmente, com a conclusão do filme. A impressão que se tem, ao final da projeção, é a de que os roteiristas se reuniram um dia, tiveram a ideia, a desenvolveram pela metade (ou nem isso, ¼, melhor dizendo), e, ao constatarem que não havia por onde seguir, cortaram ali mesmo e deram por realizado.


Diferentemente do espanhol [REC], por exemplo, que cria uma proposta também interessante e a deixa mais criativa e bem desenvolvida até o final, A Filha do Mal termina da forma mais idiota e decepcionante que eu já vi em toda a história do cinema. Não é gratuitamente que a distribuidora não exibiu o filme para a imprensa, antes da estreia; afinal, é melhor manter apenas a curiosidade do público do que enxurradas de críticas bem mal educadas surgirem nas mídias e provar, de uma vez só, que de assustador, revelador e divertido, o filme não tem nada, absolutamente nada.




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Ewerton

Sobre o autor

Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera A Bombonière

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