23 de setembro de 2011

Filme: Melancolia





Melancolia
Melancholia
2011
Dinamarca / França / Alemanha / Itália / Suécia
Drama
130 minutos

Direção: Lars von Trier
Roteiro: Lars von Trier


Melancolia
(me.lan.co.li.a)
sf.
1. Tristeza sem causa definida, por vezes acompanhada de uma saudade difusa;
2. Desgosto, pesar;
3. Psiq. Distúrbio emocional caracterizado por um estado de abatimento mental, pela sensação de impotência, pelo sentimento de que a vida não possui sentido, podendo, se não tratado, conduzir ao suicídio.


Definição de "melancolia" no dicionário.

© 2011 Zentropa Entertainment


"(...) Foi quando percebi que, na verdade, eu era um nazista. Minha família era alemã. E isso me deu prazer. O que posso dizer? Eu entendo Hitler. Eu simpatizo um pouco com ele."

Lars von Trier, em entrevista coletiva para a imprensa no Festival de Cannes, em 2011.

© 2011 Zentropa Entertainment


"É sobre duas irmãs e um planeta. Tenho um plano, e ninguém nunca vai saber que plano é esse."

Lars von Trier, sobre Melancolia.

© 2011 Zentropa Entertainment



A declaração de Trier na coletiva do Festival de Cannes não influenciou em nada, pelo menos diretamente, no seu mais recente filme, Melancolia. Serviu sim para que boa parte dos jornalistas e público em geral ficassem chocados com sua "simpatia" por Hitler. Se Trier fez isso para gerar polêmica e, consequentemente, publicidade gratuita para seu novo filme, ótimo, ele conseguiu. Se apenas foi uma piada de mau gosto ou uma declaração verdadeira, também pouco importa. O que importa é a qualidade extrema e estonteante de Melancolia.

Logo de início, como é de costume em seus filmes, Lars von Trier rebate os ouvidos de seus espectadores com uma música clássica e imagens aleatórias. No caso de Melancolia, a primeira que vemos é o rosto de Justine (interpretada por Kirsten Dunst), desolado, com um semblante triste, perdido, esculpido por uma tristeza anônima. Essa imagem é suficiente para quem assiste perceber o clima que vai ser transmitido pela dolorosa película do cineasta dinamarquês.

Apesar de seu último filme, Anticristo, também trabalhar com o conceito de dor, de depressão profunda, é um foco diferente do trabalhado em Melancolia. Aqui a tristeza parece surgir do nada, da simples e pura vontade de não querer lutar contra o sentimento arrebatador, que acaba influenciando nos atos e nas escolhas da personagem focada na primeira parte, Justine.

© 2011 Zentropa Entertainment

Ela está prestes a casar com um homem bonito e que, aparentemente, a ama genuinamente. Essa primeira parte do longa retrata a festa de casamento, narrando com diálogos e situações as relações familiares que Justine tem. A irmã, Claire (interpretada por Charlotte Gainsbourg), é quem organizou a festa na própria casa, mansão também ocupada pelo marido John (interpretado por Kiefer Sutherland) e pelo filho; é ela que vai, por toda a história, segurar as pontas de Justine, em seus momentos de maior dor e sofrimento, que, diga-se de passagem, são muitos.

No meio dos conflitos e sofrimentos vivenciados por Justine e Claire, a trama apresenta um conflito paralelo, tanto físico, quanto metafórico: um planeta de nome Melancholia está em rota contra a Terra. Claire sofre de grande ansiedade com essa notícia pois acredita que o planeta estranho irá colidir com nosso planeta, fato contestado a todo momento pelo marido, que é estudioso em Astronomia e afirma que o que acredita é a real verdade. Já Justine, muito provavelmente por sua depressão e melancolia crônicas, aceita o fato de forma natural e benevolente. Isso parece assustar um pouco Claire.

Lars von Trier, então, apresenta duas tramas que se entrelaçam: os conflitos psicológicos de Justine e Claire e a provável colisão do planeta Melancholia com a Terra. Mas, como sempre, as apresenta de forma singela, natural, bonita, sinfônica.

O filme, logo de início, é um banho, uma escola de imagens estéticas com suas cenas em slowmotion, herança boa e bem-vinda novamente de Anticristo. A diferença é que aqui temos imagens que resumem o filme, mostrando pontos-chave da trama, sem peso na consciência, sem ressentimentos.

© 2011 Zentropa Entertainment

Como já dito, a primeira parte foca mais nas relações familiares, detalhando e dissecando a festa de casamento de Justine, deixando a segunda para o assunto "colisão do planeta tal com a Terra".

É extremamente necessário falar sobre a atuação de Kirsten Dunst como Justine. A Palma de Ouro que ganhou no festival francês de Cannes como melhor atriz calhou de forma boa e coerente: Dunst entrega uma atuação impecável para o público, sem exagerar em caras e bocas e transparecendo uma dor real em seus olhos. É claro que o fato de ter passado por uma depressão antes das filmagens conta bastante, mas parece que essa preferência de Trier por escolher atores / atrizes com problemas psicológicos ou de saúde (assim como fez com Charlotte Gainsbourg em Anticristo) é um ponto positivo quando o assunto é "atuação". O diretor realmente extrai a essência não só da personagem principal, mas também de todos os outros envolvidos no desenrolar da trama.

Para quem é fã do diretor, Melancolia é uma festa. Vê-se ali uma aula de imagens e de atuações. Um manual para qualquer um saber como se compõe uma verdadeira obra cinematográfica. O próprio diretor afirmou várias vezes que Melancolia talvez não ficasse bom, que não devesse nem ser assistido. Mas para quem afirmou ser simpatizante de Hitler e, logo após, desmentir e dizer que foi apenas uma brincadeira, é bom ficarmos com o pé atrás e apreciar o bom filme que é Melancolia.


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Ewerton

Sobre o autor

Ewerton Estudante de Letras, gosta de escrever, ler e analisar tudo o que está em alta (ou não) no mundo pop atual e antigo. Curte música pop e indie e, nas horas vagas, brinca de ser crítico de cinema.
@ewertonmera A Bombonière

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